Experiências de leitura e escrita
Este espaço faz parte de um programa de formação continuada dos professores PEB II da rede pública estadual do Estado de São Paulo: Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade. A ideia do curso é levar os educadores em formação a refletirem e exercerem práticas de leitura e escrita em ambientes digitais interativos. Você está convidado a participar deste espaço, deixando suas impressõe e participando com suas opiniões.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Relato reflexivo
Por incrível que pareça, para decidir realmente iniciar o curso, solicitei a ajuda dos meus alunos. Informei a respeito dos objetivos e perguntei a opinião deles. Imediatamente, a agitação a favor tomou conta das turmas consultadas.
Senti-me ainda mais motivada e curiosa com a nova oportunidade de conhecimento no que se refere à utilização das ferramentas tecnológicas como mais um recurso para a aprendizagem dos alunos, sobretudo, pela carência de acesso ainda encontrada por muitos no seu cotidiano e também pela falta de funcionamento da Internet na própria escola.
O aproveitamento didático das atividades durante as aulas de língua portuguesa até então ministradas, mais uma vez, ocorreu apenas no ambiente da sala de aula e na Sala de Leitura da escola, como já é comum no meu trabalho cotidiano. É preciso “driblar” as dificuldades encontradas e seguir em frente.
Lamentavelmente, até o presente momento desse ano letivo, não foi possível por em prática algumas atividades sugeridas e criadas com o que aprendi no curso na Sala do Acessa Escola, pois nenhum aluno e nenhum professor da escola em que leciono fez uso da Internet devido à falta de funcionamento da rede/do sistema (como sempre se alega, trata-se de “problemas técnicos”).
Com relação à produção de textos para o contexto digital e a composição do blog foi de extrema importância, pois adquiri mais confiança leitora e escritora. Sabendo que ainda me encontro em processo de aprendizagem no assunto considerei a possibilidade de criar outro blog e envolver meus alunos no processo leitor/escritor - reais protagonistas - construindo um novo Projeto de Leitura e Escrita juntamente com a clientela – propondo o levantamento em conjunto dos objetivos, das metas, das estratégias de incentivo a leitura e da avaliação.
Por fim, ao realizar o curso em minha casa, ampliei o aprendizado que envolveu as práticas atuais de leitura e escrita considerando os diferentes recursos midiáticos.
Fábia Vilela da Fonseca.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Concluindo a 1a. Etapa do
Curso de Leitura e Escrita em Contexto Digital
Foi muito bom ter mais contato com a internet, poder usar
essa ferramenta tão dinâmica e interativa, que proporciona tantas
possibilidades. Saber como criar um blog, uma página na internet, e poder
compartilhar isso com as pessoas foi uma experiência inédita em minha vida. Espantar-me
como foi simples e prazeroso poder abrir uma página na web com nossos textos.
Foi realmente uma grande experiência.
Trazer à memória os textos e as escritas que marcaram nossas
vidas nos trouxe a oportunidade de compartilharmos tantos fatos pitorescos e
verificarmos o quanto uma leitura pode impactar uma vida e trazer inspiração,
marcando para sempre.
Os fóruns foram muito marcantes, pois pudemos discutir
vários pontos importantes das nossas experiências, na montagem dos blogs, na
exposição de nossos textos, traçando comentários importantes. Sempre é bom ter
uma opinião sobre o que estamos fazendo. A discussão sempre ajuda na construção
de uma ideia e a aperfeiçoa.
Esse curso, Leitura e Escrita em Contexto Digital,me
proporcionou muitos desafios e me instigou a buscar a construção de ideias e
desenvolver a criatividade, lançando mão no baú para tirar de lá respostas para as discussões
e confecção de textos.
Creio que este curso me levou a uma reflexão sobre a
importância de trabalhar textos diversos com os alunos, em vários formatos e os
conduzir às práticas de escrita e também ao uso da navegação na internet com
fins pedagógicos.
Eunice Ribeiro Kassardjian
terça-feira, 1 de maio de 2012
Estou postando a crônica de nossa colega Daniela Heliodoro Alencar Alves:
Um embrulho especial
Ao abrir meus olhos lembrei-me com muita emoção o quanto este dia era
especial. Ao levantar-me logo ouvi o som da campainha e dialoguei com meus
próprios pensamentos: "Quem será que decidiu manifestar seu carinho, afeto
e consideração por mim?". "Certamente Camile."
Saltitando desci
as escadas e com tamanha ansiedade abri a porta. Deparei-me com algo que
certamente não era um embrulho especial. Avistei um homem na soleira. Meus
olhos se movimentaram quase que automaticamente, tentando detectar a presença
de mais alguém. Não havia vestígios. Com o mínimo de coragem decidi tocá-lo,
estava frio e rígido talvez. Senti inúmeros calafrios e encorajei-me a ligar
para a polícia. Era minha primeira experiência e, ao contrário do que dizem,
uma viatura estava em minha porta; um pouco estranho, mas também havia outros
veículos. Novamente ouvi o som da campainha e, ao abrir a porta deparei-me com
um sargento cujo rosto tinha uma expressão rígida. Instantaneamente passou em
minha mente: "Acham que sou culpado?". Foi quando o sargento retirou
de seu bolso um embrulho e disse-me: " Receba com carinho esta mensagem e
este embrulho especial". Um cartão acompanhava o embrulho com os seguintes
dizeres: " Feliz aniversário! Com carinho, Camile."
Daniela Heliodoro Alencar Alves
Gênero
textual: Crônica
Esfera
da atividade: literária/artística
Suporte
inicial: o jornal e a revista
Características
do gênero: a linguagem próxima do leitor, a presença da oralidade, a brevidade,
o hibridismo (exposição, narração, opinião).
A noite que não teve fim
Noite longa! “A agitada noite dos pesadelos”.
Foi assim que Teka intitulou os momentos pavorosos que passou quando dormia. Imagens
sangrentas, correria pelas calçadas e por entre as casas da Vila das Tristezas.
Vários corpos estendidos no asfalto.
Abriu os olhos após o despertar do relógio de
cabeceira, pontualmente, às 7:00 horas, daquela quarta-feira. Espreguiçou-se e
levantou-se da cama, calçando os pés. Dirigiu-se ao banheiro, olhou o espelho,
lavou o rosto, os olhos e escovou os dentes. Espalhou pelo rosto e pelo corpo o
creme bloqueador dos tais raios prejudiciais à pele. Trocou de roupa e tomou o
café da manhã.
De repente, ouviu o gritante som da campainha
e, após muita procura, encontrou a chave na bolsa. Muito agitada, correu e abriu
a porta.
- O que é isso? Quem é esse homem caído nessa
soleira?
Ao perceber que não havia ninguém mais no
corredor, gritou ainda mais alto:
- ALGUÉM PODERIA ME DIZER COMO ESSE HOMEM
VEIO PARAR AQUI?
Nada. Ninguém além dela e do homem.
Então, Teka decidiu o que parecia o óbvio:
abaixou-se, observou a fisionomia do homem, a vestimenta surrada e cheirando
cachaça pura; tocou o rosto dele com dedos e sentiu a pele gélida e rígida.
- Meu Deus, um CADÁVER!! Socorro!! Socorro!!
Pensou em desmaiar, porém entendeu que não
deveria, pois não havia mais ninguém no local e já bastava um morto na
situação.
Retornou meio que desorientada ao apartamento
e ligou do aparelho celular que se encontrava na cômoda do seu quarto
informando o ocorrido à Polícia Militar.
- Que horror! Parece que a noite ainda não
terminou.
Fábia Vilela da Fonseca.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
O sonho profissional
O sonho profissional
Rosenildo acorda cedo, os olhos pouco descansaram naquela noite. Ansioso por iniciar uma nova vida profissional. Aguardava, porém, seu amigo Luciovaldo para levá-lo serra acima. A vida de professor na escola estadual de Praia Grande já não era seu objetivo, seus sonhos exigiam voos maiores que um aumento do “vale coxinha” de apenas quatro reais dado naquela semana. O dia reservava a ele o início de uma carreira promissora numa empresa de e-commerce na qual seria gerente.
- Ainda bem que o Luciovaldo é pontual, se fosse só por mim, estaria perdendo o horário no primeiro dia de trabalho. Pensava ele enquanto consultava o relógio. – Seis horas! Estou muito atrasado! Concluiu enquanto corria para o banheiro. Abriu a janela do banheiro para espiar se lá embaixo estava o carro do amigo, lá estava ele. – O Luciovaldo tem a chave da porta, ele que entre e espere até que eu termine o banho. A chave a que Rosenildo se referia, era qualquer objeto que coubesse no espaço deixado pela maçaneta da porta, poderia ser uma tesoura, uma chave de fendas ou a única maçaneta avulsa da casa usada para também abrir e fechar a porta do banheiro.
Blam! O vento entrou com força pela janela que deveria estar sempre fechada, e acaba trancando o Rosenildo no banheiro.
- Droga! Rosenildo fecha a janela do banheiro inutilmente, e A campainha toca. – Pode entrar, estou no banho. Disse ele aguardando que o amigo entrasse. Silêncio. Ele termina o banho, chama o amigo e nada. – Isso deve servir. Diz ele ao encontrar uma tesoura que usava para aparar os pelos das orelhas e nariz, enfia na fechadura e se vê livre daquele cubículo. – Cadê o Luci??? Pergunta-se ao passo que corre para a cozinha pegar os óculos que deixou em meio às garrafas de vinho tomadas na noite anterior. Corre à porta, observa pelo olho mágico e nada vê. Procura pela maçaneta e a encontra em meio às caixas vazias de pizzas, pega um pedaço da de quatro queijos, mastiga vorazmente enquanto abre a porta.
É quando vê caído na soleira da porta seu amigo Luciovaldo. Ele mexe com o amigo na intenção que ele pare com a brincadeira, pois ele estava atrasado para o grande dia. Mas não obtém resposta. Preocupado ele olha em redor, principalmente para a porta do apartamento da dona Penha, mulher intragável sempre atenta à vida alheia e disposta a confusão. Ele não a vê, mas tem a impressão de ter visto um vulto se mover pela fresta daquela porta.
- Ele não pode ficar aqui. Pensou enquanto arrastava seu amigo para dentro do apartamento. Colocou-o deitado no sofá, percebeu que o corpo estava quente, pensou em chamar o médico do 413, mas depois se lembrou que aquele era um morador de temporadas, e que depois desse carnaval, só voltaria nas férias de meio de ano. Concluiu que estavam, naquele andar, ele e a Dona Penha. Atento ao amigo, percebeu que este não tinha pulso. – Está morto! Ora essa agora, justo no primeiro dia do meu trabalho este cara dá para morrer.
O desespero tomou conta do Rosenildo, não pelo fato de perder o amigo, e sim pelas consequências sobre seu futuro profissional. - Vou ligar para a polícia. Disse e enquanto discava, ia desistindo da ideia. – Não, isso vai me causar mais transtornos, ele fica aqui, vou ao trabalho e na volta resolvo isso. Pensou isso enquanto desligava o telefone. Vasculhou o bolso do amigo e de lá tirou a chave do carro, juntou a ela a tesoura de cortar pelos do nariz, sua pasta de executivo e o guarda-chuva. Consultou o relógio, seis e meia, desceu as escadas, não queria encontrr com ninguém e ter que de repente responder sobre o amigo que subiu à pouco.
- Isso é provocação, já não bastava ter morrido em minha porta? Disse ele ao ver que o carro estava com o motor ligado, chamando a atenção sabe-se lá de quem, já que o condomínio estava às moscas. Mas a preocupação de ter que se justificar sobre qualquer coisa a quem quer que seja estava longe de seus planos. Seus planos eram outros, e nada poderia atrapalhar. Muito menos um morto, mesmo sendo ele seu amigo. Mas Rosenildo esperava que no fim do dia tudo fosse se resolver.
Dentro do carro tentou espantar a lembrança do ocorrido, lembrou-se então dos anos que passou dentro daquela escola, a preencher diários, corrigir avaliações, se submetendo ao baixo salário e às péssimas condições de trabalho, lembrou-se dos impropérios ditos aqueles colegas de trabalho que pouco ousavam nas suas aulas, mas que na hora de se dirigir à diretora ou ao coordenador, douravam a pílula dizendo cativar seus alunos com aulas espetaculares. Agora seu destino era subir, a princípio a serra do mar, e depois na vida profissional, esse dia haveria de ser o divisor de águas na sua vida, chegará atrasado, é certo, porém terá como justificativa o trânsito caótico da cidade. Deixava para trás, alem do corpo do amigo, angustias e frustrações de uma vida voltada a algo que não se identificava.
Foi seguindo o caminho até que o carro começou a perder velocidade, o motor falhando, e os solavancos ao entrar no acostamento, cada vez mais intenso, até que ele acordou.
Acordou com Luciovaldo avisando que estavam atrasados para a primeira aula.
Rosenildo acorda cedo, os olhos pouco descansaram naquela noite. Ansioso por iniciar uma nova vida profissional. Aguardava, porém, seu amigo Luciovaldo para levá-lo serra acima. A vida de professor na escola estadual de Praia Grande já não era seu objetivo, seus sonhos exigiam voos maiores que um aumento do “vale coxinha” de apenas quatro reais dado naquela semana. O dia reservava a ele o início de uma carreira promissora numa empresa de e-commerce na qual seria gerente.
- Ainda bem que o Luciovaldo é pontual, se fosse só por mim, estaria perdendo o horário no primeiro dia de trabalho. Pensava ele enquanto consultava o relógio. – Seis horas! Estou muito atrasado! Concluiu enquanto corria para o banheiro. Abriu a janela do banheiro para espiar se lá embaixo estava o carro do amigo, lá estava ele. – O Luciovaldo tem a chave da porta, ele que entre e espere até que eu termine o banho. A chave a que Rosenildo se referia, era qualquer objeto que coubesse no espaço deixado pela maçaneta da porta, poderia ser uma tesoura, uma chave de fendas ou a única maçaneta avulsa da casa usada para também abrir e fechar a porta do banheiro.
Blam! O vento entrou com força pela janela que deveria estar sempre fechada, e acaba trancando o Rosenildo no banheiro.
- Droga! Rosenildo fecha a janela do banheiro inutilmente, e A campainha toca. – Pode entrar, estou no banho. Disse ele aguardando que o amigo entrasse. Silêncio. Ele termina o banho, chama o amigo e nada. – Isso deve servir. Diz ele ao encontrar uma tesoura que usava para aparar os pelos das orelhas e nariz, enfia na fechadura e se vê livre daquele cubículo. – Cadê o Luci??? Pergunta-se ao passo que corre para a cozinha pegar os óculos que deixou em meio às garrafas de vinho tomadas na noite anterior. Corre à porta, observa pelo olho mágico e nada vê. Procura pela maçaneta e a encontra em meio às caixas vazias de pizzas, pega um pedaço da de quatro queijos, mastiga vorazmente enquanto abre a porta.
É quando vê caído na soleira da porta seu amigo Luciovaldo. Ele mexe com o amigo na intenção que ele pare com a brincadeira, pois ele estava atrasado para o grande dia. Mas não obtém resposta. Preocupado ele olha em redor, principalmente para a porta do apartamento da dona Penha, mulher intragável sempre atenta à vida alheia e disposta a confusão. Ele não a vê, mas tem a impressão de ter visto um vulto se mover pela fresta daquela porta.
- Ele não pode ficar aqui. Pensou enquanto arrastava seu amigo para dentro do apartamento. Colocou-o deitado no sofá, percebeu que o corpo estava quente, pensou em chamar o médico do 413, mas depois se lembrou que aquele era um morador de temporadas, e que depois desse carnaval, só voltaria nas férias de meio de ano. Concluiu que estavam, naquele andar, ele e a Dona Penha. Atento ao amigo, percebeu que este não tinha pulso. – Está morto! Ora essa agora, justo no primeiro dia do meu trabalho este cara dá para morrer.
O desespero tomou conta do Rosenildo, não pelo fato de perder o amigo, e sim pelas consequências sobre seu futuro profissional. - Vou ligar para a polícia. Disse e enquanto discava, ia desistindo da ideia. – Não, isso vai me causar mais transtornos, ele fica aqui, vou ao trabalho e na volta resolvo isso. Pensou isso enquanto desligava o telefone. Vasculhou o bolso do amigo e de lá tirou a chave do carro, juntou a ela a tesoura de cortar pelos do nariz, sua pasta de executivo e o guarda-chuva. Consultou o relógio, seis e meia, desceu as escadas, não queria encontrr com ninguém e ter que de repente responder sobre o amigo que subiu à pouco.
- Isso é provocação, já não bastava ter morrido em minha porta? Disse ele ao ver que o carro estava com o motor ligado, chamando a atenção sabe-se lá de quem, já que o condomínio estava às moscas. Mas a preocupação de ter que se justificar sobre qualquer coisa a quem quer que seja estava longe de seus planos. Seus planos eram outros, e nada poderia atrapalhar. Muito menos um morto, mesmo sendo ele seu amigo. Mas Rosenildo esperava que no fim do dia tudo fosse se resolver.
Dentro do carro tentou espantar a lembrança do ocorrido, lembrou-se então dos anos que passou dentro daquela escola, a preencher diários, corrigir avaliações, se submetendo ao baixo salário e às péssimas condições de trabalho, lembrou-se dos impropérios ditos aqueles colegas de trabalho que pouco ousavam nas suas aulas, mas que na hora de se dirigir à diretora ou ao coordenador, douravam a pílula dizendo cativar seus alunos com aulas espetaculares. Agora seu destino era subir, a princípio a serra do mar, e depois na vida profissional, esse dia haveria de ser o divisor de águas na sua vida, chegará atrasado, é certo, porém terá como justificativa o trânsito caótico da cidade. Deixava para trás, alem do corpo do amigo, angustias e frustrações de uma vida voltada a algo que não se identificava.
Foi seguindo o caminho até que o carro começou a perder velocidade, o motor falhando, e os solavancos ao entrar no acostamento, cada vez mais intenso, até que ele acordou.
Acordou com Luciovaldo avisando que estavam atrasados para a primeira aula.
Esferas de atividades humanas e os gêneros do discurso
Uma atividade prática foi proposta para a turma. Deveríamos analisar uma animação na qual havia a sequência de uma história e a partir desses dados deveríamos desenvolver um texto com um determinado gênero proposto.O gênero literário do nosso grupo foi a crônica.
Publicaremos então, as nossas crônicas. Perceba que cada escritor desenvolverá a sua história, porém todas mantém dados em comum. Não estranhe, faz parte da atividade. Isso é muito interessante, pois podemos apreciar diferentes maneiras de se contar a mesma história.
A vida é mole ou é dura?
Querido leitor, não é
nada fácil, a vida é dura. Não, espere. Não é somente dura, às vezes é mole
também. Ora é mole, ora é dura. Depende do ponto de vista.
Deixe-me explicar melhor. Olhe só, por exemplo, o que
aconteceu com o Geraldo, um caso muito inusitado! Ele tinha se metido numa
dessas enrascadas da vida. Sua empresa começou a ir de mal a pior, cheia de
dívidas; teria que demitir funcionários, muitas decisões difíceis para tomar. Então
ele resolveu tomar dinheiro com agiota, do tipo canalha mesmo, que vive disso e
cobra uma fortuna, o olho da cara. As
coisas pareciam não correr bem para o nosso amigo, pois, na esperança de
solucionar seus problemas, recorreu às cartas de baralho; mas a sorte não
sorriu para ele e mais dinheiro saiu do bolso do agiota. Sua vida estava
perdida; sua casa, seus carros, tudo que conquistara...
Certa ocasião, Geraldo chegou altas horas da noite em casa,
sua mulher estava bufando e a cabeça dele explodindo. Depois daquelas
discussões que não chegam a lugar nenhum, cama.
Sua esposa dormia e
provavelmente sonhava com muitas coisas, menos com o tamanho da dívida que ele
tinha, porque disso ela não sabia. Mas Geraldo se mexia pra lá e pra cá,
travesseiro na cabeça, no meio das pernas, com cobertor, sem cobertor. Que
noite! Decidiu ficar com os olhos
abertos, porque quando a cabeça não quer dormir não adianta. Mas também, já
estava quase na hora de levantar. “Deixe pra lá”... coçou a cabeça e levantou-se.
Quando estava fazendo sua higiene pessoal, vamos dizer,
escovando seus dentinhos, subitamente tocou a campainha.
– Campainha? Nessa hora? – saiu correndo com a toalha na
mão, meio que tropeçando pelo caminho.
Quando pôs a mão na maçaneta, não sabia que a partir dali
sua vida iria mudar. Ao abrir a porta, deparou-se com um corpo que jazia na soleira.
Abaixou-se, hesitou em tocá-lo, teve que engolir seu coração que parecia querer
sair pela boca, secou a testa, embora todo o seu corpo suasse, e sentiu
suavemente com as pontas dos dedos o corpo do defunto. Seus olhos sem vida e
esbugalhados olhavam para Geraldo e seu aspecto de morto era como de quem
sofreu um infarto fulminante. Levantou-se atônito e fechou a porta apoiando seu
peso na maçaneta que segurava.
Sua esposa perguntou do quarto:
- Querido, quem era?
- Espere um pouco, tenho que fazer
algo muito importante.
Seguiu até a escrivaninha, pegou o telefone e
discou para a polícia.
Enquanto isso, pensava em como explicar para sua esposa que um defunto em sua porta, tocara a
campainha antes de morrer, e esse era o seu credor implacável que estava ali para
cumprir ameaças ao próprio Geraldo, e ainda, explicar-lhe que escondera a dívida do tamanho de um bonde com esse homem, mas que agora, com ele morto,
acabavam-se os seus problemas.
Difícil para o Geraldo, não é? Mas
até que ficou fácil! Será? Duro ou mole, fácil ou difícil, eu não sei. Só sei
que tem que ser cada coisa de uma vez.
Eunice Ribeiro Kassardjian
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