segunda-feira, 30 de abril de 2012

 Esferas de atividades humanas e os gêneros do discurso

Uma atividade prática foi proposta para a turma. Deveríamos analisar uma animação na qual havia a sequência de uma história e a partir desses dados deveríamos desenvolver um texto com um determinado gênero proposto.
O gênero literário do nosso grupo foi a crônica.
Publicaremos então, as nossas crônicas. Perceba que cada escritor desenvolverá a sua história, porém todas mantém dados em comum. Não estranhe, faz parte da atividade. Isso é muito interessante, pois podemos apreciar diferentes maneiras de se contar a mesma história.



A vida é mole ou é dura?


 Querido leitor, não é nada fácil, a vida é dura. Não, espere. Não é somente dura, às vezes é mole também. Ora é mole, ora é dura. Depende do ponto de vista.

Deixe-me explicar melhor. Olhe só, por exemplo, o que aconteceu com o Geraldo, um caso muito inusitado! Ele tinha se metido numa dessas enrascadas da vida. Sua empresa começou a ir de mal a pior, cheia de dívidas; teria que demitir funcionários, muitas decisões difíceis para tomar. Então ele resolveu tomar dinheiro com agiota, do tipo canalha mesmo, que vive disso e cobra uma fortuna, o olho da cara.  As coisas pareciam não correr bem para o nosso amigo, pois, na esperança de solucionar seus problemas, recorreu às cartas de baralho; mas a sorte não sorriu para ele e mais dinheiro saiu do bolso do agiota. Sua vida estava perdida; sua casa, seus carros, tudo que conquistara...

Certa ocasião, Geraldo chegou altas horas da noite em casa, sua mulher estava bufando e a cabeça dele explodindo. Depois daquelas discussões que não chegam a lugar nenhum, cama.

 Sua esposa dormia e provavelmente sonhava com muitas coisas, menos com o tamanho da dívida que ele tinha, porque disso ela não sabia. Mas Geraldo se mexia pra lá e pra cá, travesseiro na cabeça, no meio das pernas, com cobertor, sem cobertor. Que noite! Decidiu  ficar com os olhos abertos, porque quando a cabeça não quer dormir não adianta. Mas também, já estava quase na hora de levantar. “Deixe pra lá”...  coçou a cabeça e levantou-se.

Quando estava fazendo sua higiene pessoal, vamos dizer, escovando seus dentinhos, subitamente tocou a campainha.

– Campainha? Nessa hora? – saiu correndo com a toalha na mão, meio que tropeçando pelo caminho.

Quando pôs a mão na maçaneta, não sabia que a partir dali sua vida iria mudar. Ao abrir a porta, deparou-se com um corpo que jazia na soleira. Abaixou-se, hesitou em tocá-lo, teve que engolir seu coração que parecia querer sair pela boca, secou a testa, embora todo o seu corpo suasse, e sentiu suavemente com as pontas dos dedos o corpo do defunto. Seus olhos sem vida e esbugalhados olhavam para Geraldo e seu aspecto de morto era como de quem sofreu um infarto fulminante. Levantou-se atônito e fechou a porta apoiando seu peso na maçaneta que segurava.  

Sua esposa perguntou do quarto:

- Querido, quem era?

- Espere um pouco, tenho que fazer algo muito importante.

 Seguiu até a escrivaninha, pegou o telefone e discou para a polícia.

Enquanto isso, pensava em como explicar para sua esposa que um defunto em sua porta, tocara a campainha antes de morrer, e esse era o seu credor implacável que estava ali para cumprir ameaças ao próprio Geraldo, e ainda, explicar-lhe que  escondera a dívida do tamanho de um bonde com esse homem, mas que agora, com ele morto, acabavam-se os seus problemas. 

Difícil para o Geraldo, não é? Mas até que ficou fácil! Será? Duro ou mole, fácil ou difícil, eu não sei. Só sei que tem que ser cada coisa de uma vez.

Eunice Ribeiro Kassardjian








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